18 junho 2007

Sentinelas

“Sobre as tuas muralhas, Jerusalém, coloquei sentinelas. Elas nunca se poderão calar, nem de dia, nem de noite. ‘Não fiquem calados os que lembram Jerusalém ao Senhor, não tenham qualquer repouso, não permitam que Ele descanse até que dê a Jerusalém estabilidade e faça dela a admiração da terra.” Is 62:6,7


Sentinelas que não se calam, nem de dia, nem de noite. Não podem fazê-lo!

Mas quantas vezes eu me calo, Pai.

SELAH

Uma sentinela é alguém que não dorme, alguém que está atento, a vigiar, com todos os sentidos. Ainda que de dentro dos muros esteja uma cidade inteira a dormir ou embrenhada noutras actividades, corriqueiras ou não, a sentinela está com os seus olhos onde deve estar. E está a ver tudo num plano mais alto que o resto de todas as outras pessoas.

E se ela foi escolhida e separada por Deus, ela tem a visão d’Ele sobre tudo o que observa. Dentro e fora das muralhas.

Penso que a principal função de uma sentinela é vigiar a parte de FORA das muralhas, observando se há algum perigo iminente. Não sei, mas só sei que se essas mesmas sentinelas também olharem para dentro da cidade, elas também podem ver “de cima” como está a cidade e os seus habitantes… o seu estado.

Porque Deus lhe dá essa visão.

Há algum tempo que Deus fez com que estes versículos se fizessem luz em mim. Eu posso não saber e não entender muitas coisas, mas uma coisa eu sei: Ele escolheu-me para ser uma sentinela nesta geração em que vivo.

E como sentinela, eu não me posso calar, nem de dia e nem de noite. Ah… e quantas vezes eu já me calei, por dias e dias, meses e meses… pelos mais diversos motivos.

Umas vezes porque não me sinto nesse papel, outras vezes porque não tenho visão de sentinela. Talvez não esteja em cima das muralhas e, por isso mesmo, ando a dormir ou com os meus olhos noutras coisas que me “adormecem”. Outras vezes porque me sinto aquém de ser uma sentinela.



Tantos e tantos motivos me têm levado a ficar calada e não lembrar Portugal ao Senhor…

Mas graças a Ele que me desperta, de tempos a tempos, para esta necessidade. Porque eu não sou uma sentinela por “profissão”, de segunda a sexta, alguma horas por dia. Por mais fraca que me sinta, com mais falta de visão que me sinta, há algo dentro de mim que me diz que não é para eu viver assim. Todo o meu ser clama sempre por algo mais, muito maior, muito além deste plano material, onde tudo é vão, fútil, tão passageiro…

Simplesmente não consigo viver muito tempo a minha vidinha “normal”, do dia-a-dia, embrenhada nela como qualquer pessoa que não conhece a vida espiritual, até como os crentes que se dizem crentes e são iguais a qualquer outra pessoa.

Mas eu não posso ser assim. E quando sou assim, como outra pessoa qualquer, eu não sou feliz, ainda que tudo na minha vida esteja perfeito. Há um sentimento que só Deus me pode dar, e Ele sabe como isto não são meras palavras. É um profundo sentimento que só Ele pode despertar em mim e fazer florescer. Um sentimento vibrante, de alegria, que faz com que todas as bênçãos que Ele me deu na minha vida se tornem espectaculares, lindas.

E era assim que eu queria viver sempre. Mas há momentos em que parece que Deus se torna tão distante… ou sou eu que me torno distante. E nesses momentos, eu começo a deixar de ser uma sentinela activa. Eu continuo a ser sentinela, pois se Deus me nomeou, mais ninguém, nem eu própria, posso “desnomear-me”, mas sou uma sentinela sem visão, sem o Seu coração, sem os Seus olhos, logo posso olhar, olhar e olhar, subir às muralhas e não ver nada. Porque ver algo implica que essa mesma visão me seja dada por Deus.

E não há nada mais frustrante a alguém que já viu tanto chegar a alguns momentos e não ver nada… Aparece uma dor aguda na alma, umas saudades dos tempos em que via… em que sorria com Ele, em que vibrava com o que via e isso me dava uma nova vida completamente fresca no meu interior.

Graças a Ele que há um despertamento disponível a qualquer momento, a partir da altura em que eu começo a clamar diante d’Ele para que seja de novo alguém que se move no plano espiritual. E é tão revigorante começar a sentir pequenas chuvas no terreno árido. É tão bom ouvir de novo a Sua voz. É tão maravilhoso ver que é essa mesma voz que faz toda a diferença na minha vida.

A vida espiritual só pode ser vivida, nunca apenas falada, pensada, pregada ou aprendida. Isso é ZERO. Ela tem de ser experimentada, e é a cada experiência com o Pai que nos apaixonamos mais, que nos encontramos na Sua vontade para nós, que sentimos o nosso ser a ser movido por Ele, onde sentimos que realmente aprendemos alguma coisa marcante em nós. Onde às vezes há deserto, mas sabemos que foi o Seu Espírito que lá nos levou.

É por isso que cada vez mais me cansam meros palavreados, meras palavras jogadas sobre Deus, sobre quem Ele é, blá, blá, blá, palavras sem vida, que só o Seu maravilhoso Espírito pode vivificar.

Que me importa saber que Deus é omnipotente se eu não experimento isso ou nunca experimentei?

Como é que eu sei que Deus é amor? Já provei isso, já experimentei isso?

Que me importa saber os milagres de Jesus? Já eu senti o Seu poder sobre mim, no contexto do meu relacionamento com Ele, actuando sobre situações humanamente impossíveis?

Que me importa ler os Actos dos Apóstolos e saber o quanto o Espírito Santo agiu por intermédio deles, se eu não conheço sequer a voz desse Espírito?

Até quando, Igreja, até quando aguentarás as palavras secas, os ossos secos, as teorias, os espectadores “hipnotizados” por Satanás?

Não vês que cada um dos teus membros dorme? Não sentes a apatia? Não sentes os olhos vidrados e sem vida? Não sentes os corações feridos e sem esperança, contudo religiosos?

Até quando aguentarás sem o toque divino? Consegues tu viver muito mais tempo sem amor verdadeiro? Consegues?? Não irás morrer emocionalmente, sem esse cuidado do Teu Pai? Há quem já tenha morrido e necessite de ser ressuscitado. E ALELUIA, porque Deus é Ressurreição e VIDA.

Não sei como consegues aguentar, Igreja. Não tens vida, mas ela será soprada sobre ti. Tem sido, e continuará a ser, pois Deus tem esse plano para ti.

Dispõe-te a ser alvo desse sopro. Eu disponho-me, e como sentinela que sou, eu preciso dele, desse sopro que tanto amo e que é o único que me pode vivificar. Sou dependente do Espírito de vida. Sem Ele eu não vejo nada, eu não sinto nada, eu não penso nada, eu não tenho coração, eu não sou nada.

Mas com Ele eu posso ser TUDO, e é esse o caminho que estou a trilhar.

Igreja, tu despertarás! E serás a admiração de toda a terra.